O TAMANHO DA BOIADA
02/01/2020"Se o litígio é inevitável, ir até as últimas instâncias ou consequências não é”
Circula entre nós um ditado popular que diz “dou um boi para não entrar em uma briga, mas dou uma boiada para não sair”. Atuando há mais de vinte anos em litígios, constato que essa é uma triste realidade. Depois de ver tantas famílias, sociedades e amizades desfeitas, atualmente tenho feito uma pergunta aos meus clientes: quantos bois existem na sua boiada? Três, trinta, trezentos ou três mil?
Há uma grande diferença a considerar nessa questão. Afinal de contas, nossa honra não pode ser paga com uma boiada. Às vezes, uma negociação pode colocar em risco uma boiada menor. A minha tem apenas três bois. Se o litígio é inevitável, ir até as últimas instâncias ou consequências não é.
É comum ouvir das pessoas: “vou recorrer até ao Supremo Tribunal Federal”. Será que isso é realmente vantajoso? Estar aberto a negociar e a quantificar sua boiada demonstra coerência. Em geral, somos muito conservadores para investir, evitamos o risco, mas na hora de litigar, vamos até às últimas consequências e nos tornamos investidores extremamente agressivos.
Ocorre que “entre o 8 e o 80”, existem diversas possibilidades, mas é necessário desenvolver o olhar atento, a clareza de raciocínio, a flexibilidade e a coerência. Há outra frase bem conhecida do poeta Ferreira Gullar que pode trazer luz à questão: “eu não quero ter razão, quero é ser feliz”.
Há pessoas que sempre querem ter a última palavra na discussão e não deixam passar momentos e oportunidades para que isso aconteça, pois não abrem mão de ter razão. Há pessoas que dizem que evitam por tudo uma briga, mas dentro dela vão até às últimas consequências. Só que, nessa toada, todos perdem... ninguém sai ileso de um litígio.
Se uma pessoa deu um boi para não entrar em uma briga, mas o litígio foi inevitável, pode dar três bois para sair e acabar com a pendência. Somos nós que determinamos o tamanho da nossa boiada. Simples assim.
Artigo publicado em: 02/01/2020
Site: www.opopular.com.br
Melina Lobo
Conselheira de Administração e Consultiva de Empresas