QUEM TOCA A BOIADA
28/04/2022Os dois anos de pandemia e a convivência com as incertezas por ela geradas levaram algumas pessoas a refletirem sobre a finitude da vida e suas consequências para as pessoas amadas.
Uma simples consulta às redes sociais demonstra o elevado número de profissionais que prometem a solução mágica para o problema dos custos de inventário e economia tributária, mediante a constituição de pessoas jurídicas (holdings) para regular a sucessão patrimonial das famílias.
A questão da sucessão na liderança, no entanto, é muitas vezes ignorada e demanda um processo estratégico que envolve profissionalismo, respeito às divergências, gerenciamento dos conflitos familiares e alinhamento das expectativas dos membros da família. Não basta redigir um contrato social, mas implantar na prática um processo complexo e intergeracional que exigirá habilidade para realizar a travessia do momento atual para o futuro. A longevidade do fundador(a) que se recusa a passar o bastão da liderança traz ainda maior complexidade para o tema.
Como ferramentas para a sucessão patrimonial, destacam-se: testamento, constituição de sociedades empresariais (holdings), doação direta dos bens, acordos de sócios, protocolos de família, previdência privada e seguros de vida.
A sucessão na liderança, entretanto, é um processo ainda mais complexo porque exige a conjugação de uma série de fatores, como a concordância pelos demais herdeiros-sócios com aquele que vai liderar o negócio familiar, sendo comum se constatar que “não basta definir quem é o dono dos bois, mas também quem vai tocar a boiada”.
Afinal, quem vai comandar os negócios precisa aprender a dar satisfação aos demais, desenvolvendo habilidades de prestar contas, transparência, comunicação clara e respeitosa, escuta ativa dos demais pontos de vista e revisão dos próprios paradigmas, ou seja, as competências comportamentais do Século XXI.
Sucessão é um processo e não um evento, requisitando dos membros da família um conjunto de atitudes e comportamentos que se perpetuam no tempo até que se tornem uma nova forma de atuação de todos os envolvidos.
O desafio é passar de um modelo de gestão centralizado no fundador(a) para outro modelo de gestão (colaborativo, participativo e coletivo) em razão da pluralidade dos sócios. E isso exige prática, aperfeiçoamento da comunicação, alinhamento das estratégias e visão de futuro da empresa e dos negócios familiares, enfim, muitas competências que necessitam ser treinadas e aplicadas.
Aquele que passará a tocar a boiada no lugar do sucedido deve pautar sua gestão nos princípios da transparência e prestação de contas que são a base da confiança das relações interpessoais, um grande desafio dos tempos atuais.
Artigo publicado em: 21/04/2022
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Melina Lobo
Conselheira de Administração e Consultiva de Empresas